Eu já fiz sexo disfarçado de amor e, algumas vezes, fiz amor me enganando que era só sexo. Agora estou sem ninguém. É sexta-feira e de forma surpreendente estou sem ninguém. Nenhum casinho de nada, o que é abismal porque sou muito fácil. Até demais. Me apaixono fácil, me entrego fácil, ponho tudo a perder muito fácil. É sexta-feira, eu devia estar me preparando para mais uma expedição romântica pela cidade, nem que seja pra voltar pra casa com um estranho, todo cheio de adrenalina, descompostura e medo do perigo. Como um pequeno felino imaturo e sapeca eu me enrolo todo na linha que separa o certo do errado. Dia desses eu me enforco sem volta.
Passei na mercearia e comprei pão, frango e brocólis. Chove diagonalmente e eu me acuo pelas calçadas grafitadas, protegido apenas pelo meu gorro escuro, que faz uns moradores me confundirem com um ladrão de carros. Não sou isso. Tenho o espírito branco feito algodão-doce, sou tão ameaçador quanto aqueles fantasmas camaradas que assustam as pessoas mas fundo só precisam de carinho e amor e atenção. Não sei se isso existe. Fantasmas. Ah, e carinho e amor e atenção também.
Depois de passar por um período meio “quem-se-importa”, eu admito: estou infeliz. Tão infeliz quanto alguém consegue ser, de chegar ao ponto de apostar que morrerei só. Estou com 25 anos. Tenho de aproveitar. Não é todo dia que se faz 25 anos e oito meses e treze dias. Só que não tenho nada pra fazer, não tenho ninguém, estou com vontade de nada. Provavelmente dormirei todo o fim de semana intercalando com alguns filmes que comprei semana passada. Nada de mais, só umas velharias do Woody Allen que eu ainda não tinha. Talvez eu dê algumas risadas. Talvez eu saia de casa, brevemente. Para buscar uma pizza califórnia do outro lado da rua, quem sabe.
Não vou abrir a porta a ninguém. Tenho cinco amigos com os quais gosto de estar, gosto de vê-los no meio das minhas coisas, mas sei que estarão ocupados neste fim de semana. Foram todos pra serra, à procura da felicidade gelada. Eu disse que não. O brabo de experimentar quase tudo na vida é que chega um momento em que você parece que já fez tudo, ouviu todas as canções, foi a todas as festas, provou todos os gostos, fotografou todas as paisagens. Eu e o mundo exterior estamos em litígio, nos separando aos poucos, às vezes apenas nos esforçando para manter as aparências. Foi-se a época de sexo, drogas e rock n' roll. Meu lema, nos últimos tempos, tem sido jazz, chocolate e auto-erotização.
Mas isso tudo não quer dizer que não estou a fim de alguém. Chega a doer. Estou apaixonado e sozinho, uma combinação bombástica, programada para me autodestruir em mais algumas semanas. Ela não sabe e nunca vai saber. A gente sabe quando não dá pé, mesmo que existam alguns chavões só pra contrariar. Meu ego é uma faixa de segurança – teoricamente, até foi feito para confiar, mas. Você até quer confiar. Mas não depende só de você. Qualquer bêbado no trânsito confia. Confie em si mesmo, que idiotice. Algumas mentiras são tão bonitas de se ouvir.
Passei na mercearia e comprei pão, frango e brocólis. Chove diagonalmente e eu me acuo pelas calçadas grafitadas, protegido apenas pelo meu gorro escuro, que faz uns moradores me confundirem com um ladrão de carros. Não sou isso. Tenho o espírito branco feito algodão-doce, sou tão ameaçador quanto aqueles fantasmas camaradas que assustam as pessoas mas fundo só precisam de carinho e amor e atenção. Não sei se isso existe. Fantasmas. Ah, e carinho e amor e atenção também.
Depois de passar por um período meio “quem-se-importa”, eu admito: estou infeliz. Tão infeliz quanto alguém consegue ser, de chegar ao ponto de apostar que morrerei só. Estou com 25 anos. Tenho de aproveitar. Não é todo dia que se faz 25 anos e oito meses e treze dias. Só que não tenho nada pra fazer, não tenho ninguém, estou com vontade de nada. Provavelmente dormirei todo o fim de semana intercalando com alguns filmes que comprei semana passada. Nada de mais, só umas velharias do Woody Allen que eu ainda não tinha. Talvez eu dê algumas risadas. Talvez eu saia de casa, brevemente. Para buscar uma pizza califórnia do outro lado da rua, quem sabe.
Não vou abrir a porta a ninguém. Tenho cinco amigos com os quais gosto de estar, gosto de vê-los no meio das minhas coisas, mas sei que estarão ocupados neste fim de semana. Foram todos pra serra, à procura da felicidade gelada. Eu disse que não. O brabo de experimentar quase tudo na vida é que chega um momento em que você parece que já fez tudo, ouviu todas as canções, foi a todas as festas, provou todos os gostos, fotografou todas as paisagens. Eu e o mundo exterior estamos em litígio, nos separando aos poucos, às vezes apenas nos esforçando para manter as aparências. Foi-se a época de sexo, drogas e rock n' roll. Meu lema, nos últimos tempos, tem sido jazz, chocolate e auto-erotização.
Mas isso tudo não quer dizer que não estou a fim de alguém. Chega a doer. Estou apaixonado e sozinho, uma combinação bombástica, programada para me autodestruir em mais algumas semanas. Ela não sabe e nunca vai saber. A gente sabe quando não dá pé, mesmo que existam alguns chavões só pra contrariar. Meu ego é uma faixa de segurança – teoricamente, até foi feito para confiar, mas. Você até quer confiar. Mas não depende só de você. Qualquer bêbado no trânsito confia. Confie em si mesmo, que idiotice. Algumas mentiras são tão bonitas de se ouvir.
Gabito Nunes
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